terça-feira, 24 de novembro de 2009

Carnaval de 1982


Cansada.Em silêncio gritava.'Esperniava'.Não sonhava nem tinha pesadelos.Aquilo estava acontecendo.Queixo tremendo,febre leve.Com suas pernas juntas,com um blusão apenas,que cobria-lhe a alvura das coxas,com olhos d'água,boca seca,sangue na fronha.Cobria-se toda,com lençóis coloridos,nada de acordo com aquele triste momento.Seus cabelos molhados exalavam um cheiro jovial naquele ambiente 'cor de abacaxi dourado',sua pele transpirava morte.Até pensou que poderia ali mesmo matar a sua própria cabeça.Mas,passava-lhe diversas coisas na cabeça e não conseguia pensar em uma só apenas.Uma interessante.Pensava que iria ficar ali por um longo período. Mas,a fome venceu.Levantou-se daquela cama verde,fixou os olhos na janela da frente,via tudo,mas,não via nada.O sol estava forte,ainda.Chorava.Cansada.


Não,ninguém morreu.Ninguém deu "o toco" nela,ninguém meteu-se em sua vida.Nem pode-se dizer que é coisa de adolescente. Pode-se dizer que é coisa de gente sensível ,que sente.Que ama.Mesmo que seja supérfluo o que naquele momento ela tanto amava.Ela mal deixa-me dizer o que aconteceu,manda-me silenciar.Não sei se devo obedecer,mas,a questão não é essa,leitor,a questão é o por que causa essa adolescente chorava ilimitadamente por horas!

Mas,levantou-se e foi para a janela ,como já havia sido dito Foi até o telefone,ligou para todos as funerárias da Av.Caxangá,outro dia raiou. Ao menos viu que morrer valia muito!Se deu uma chance. Raspou seus longos cabelos castanho-claro,colocou um óculos escuro enorme na cara ,vestiu uma calça xadrez verde com cinza e preto,uma camisa preta,sapatos de algodão cru e pegou sua bolsa preferida,com detalhes verdes .Pegou um ônibus na Rua Cônego Barata,rua fresca,cheia de carros do ano,clichês. Nordestinos com cara de abusados. Todos olhavam aquela menina careca. Sem entender!

-Como?

-O que é aquilo?

-É uma mulher?

Todos se perguntavam.

E ela na mente resmungava o quanto era corajosa e o quanto aquelas pessoas eram quadradas. Estava 'emburrada'

Enfim,seu ônibus chegou. Parou no terminal,foi parar no morro da Conceição,êtá!Isso é Recife,isso são as vísceras de uma sociedade!Vamos,adentra!
Encontrou deslizes e até tentou comparar com os seus,mas,nem quis pensar tanto.
Menino nu,menina safadinha,criança chorando,criança tomando água do esgoto,casas sem cores,cinzentas,quando não eram de papel,sim,de papel. Adultos com caras de desgosto,outros com cara de mistério,mas,ninguém olhava para ela Achou aquilo um tanto inusitado,afinal,ela parecia classe média em meio aquelas pessoas .Mas,eles pensavam mesmo é que ela estava em busca de drogas. Mas,,ela não estava. Ou estava? Foi até a casa daquela velhinha,a penúltima casa da rua 5.Uma casa de barro,mas,que em cima estava lá a antena parabólica!A velhinha já avistou aquela careca e pensou:Creio em Deus Pai!Vixii Maria!Que djabos Margarida fez na cabeça!!!!!!!

Margarida deu um beijo em sua avó e esta com todo o amor materno que possuía,também,canceriana... Abraçou sua querida neta e perguntou-lhe o que havia acontecido,mas,ela era só soluços.

Pegou algumas roupas da velha senhora e disse:Vamos sair daqui!

Margarida estava se separando. - Pensou Dona Olívia.

E desligaram-se do mundo e foram saindo daquela podridão,daquela pobreza,Margarida enfim Tirou Dona Olívia dalí.Foram saindo daquela favela e mandaram-se num táxi. Mandaram-se para rodoviária,lá estava Dona Margarete,Mãe de Margarida para as três curtirem a vida de solteira nas ladeiras de Olinda.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Logo de manhã.


Todo o dia acorda-se às sete horas da manhã,escorrega seus olhos por um retângulo cor de goiaba,lança olhares para uns sete ou oito gatos que acordam-a com risos nos olhos.Anda para a penteadeira e penteia os cabelos com os dedos,olha o computador, preto com prata.Organiza as idéias.Vai até a cozinha,prepara o que é de costume logo cedo:Café.Forte.Com açúcar Mascavo.
Prepara torradas,com o pensamento no dia que vem pela frente,tenso,mas,leve;pega a geléia de uva,põe nas torradas e vai até à janela.Depara-se com um tremendo céu azul,com grandes e espaçosas nuvens,um sol pouco quente,pouco frio,aquela brisa que lembra as praias do Recife.Mas,algo está errado nessa paisagem:Os prédios.
A cada dia nascem mais prédios, e cada um que nasce são algumas árvores mortas.Mas,não pensaremos nisso agora.
Depois de comer,vai até o banheiro,toma banho,troca de roupa. São sete e meia.
Corre por entre seus dedos várias páginas,amarelas,azuis,rosas....Eis que bate o vento em seu rosto e lembra-se: Ainda é cedo.
E vai andando a pé,olhando criteriosamente todas as pessoas,de diversas características étnicas,é meu caro,estamos no Brasil.E além de analisar pessoas,analisa paisagens.Passa por diversas árvores de mais de 100 anos,anda por museus,ferro de outros séculos, vindos da França.Sorri,os carros por aqui nem incomodam,são lindos juntos,mesmo mostrando ainda mais a desigualdade social aqui presente.Anda rápido,imagina que já seja tarde,e deixa de analisar tanto as pessoas; analisa os lugares,cheio de verde,atravessa uma ponte,terra do mangue.Os Homens caranguejos já estavam ali desde as quatro da manhã,buscando seu sustento,matando outros animais por asfixia.Naturalmente,ele está com fome.Sobrevivência.Deixe-o.O manguezal grita para ser visto,em meio a sujeira ele está ali,vivo,limpo e sorridente.Gritando para não nos esquecermos que ele está ali. E passa a ponte,olhando o manguezal,vagarosamente... Que até quase é "atropelada" por um homem barbudo de óculos que estava na bicicleta,cinzenta igual aos seus cabelos.Passa a ponte,encontra uma enorme Praça.Não a principal da cidade,mas,fica no coração de um dos centros.Nesta há diversas estátuas ,muita história,foi construída em 1935,creio eu.Atualmente é considerada um jardim histórico.E no mais,sua beleza só pode ser retratada com os próprios olhos!
E vai,depois de uma "distração" dessas para seus afazeres.
Ainda encantada com tanta beleza,vai na esquina e como é de praxe, " Bom Dia! O de sempre" e recebe em troca de seu dinheiro bombons de canela.E segue,ainda feliz.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Finados.
Estamos no fim.
Fim do quê?
Fim do Nada.

Fim do olho por olho,dente por dente?
Não ,que nada!
Estamos no fim das palavras.
Dos sentimentos.
E quase no fim ...dos argumentos.

Estou no fim da vida,no fim dos dias,estou velha,minhas pernas doem.
Ninguém entende isso,mas,hão de entender quando chegar aos 75 anos.
Sempre vivi 'só do mundo'.E sempre vivi, e ainda vivo, muito bem acompanhada:Comigo mesma.Levo-me para todos lugares e não preciso de ninguém.Escrevo a hora que tenho vontade,durmo na hora que quero,grito na hora que bem entender para espantar os males.
E é isso,eu não morri.Vocês é que morreram.

Vocês morrem a cada minuto que finge ser uma coisa que não é;
A cada minuto que dá um sorriso e por dentro mordem-se de raiva de tal pessoa,de tal maneira...
E morrem quando descansam suas cabeças imundas cheias de gordura animal com essência de qualquer cheiro forte que estiver 'na moda' e percebem que aquele dia não valeu de nada,ou nem percebem,são tão alienados em seus próprios mundos de mentiras....E a consciência muitas vezes..Pesa.E dói.E chora,incomoda.

E enfim,vou.
Vou dessa para outra melhor,Curtirei meus dias,meus últimos dias de vida,dias ou anos..Não sei.A dor nas costas e nas pernas é grande,mas,a dor na consciência?É zero.