De dentro de seu útero saem pedaços de cartas vermelhas e róseas.
Aquelas lágrimas de sangue,indicando um grande sentimento de culpa que ela nunca teve.
Conseguiu desprender-se daquilo tudo,vomitava de seu útero tudo o que deveria ter sido e que não foi.
Soltou palavras,sentimentos,bebidas,esquecimentos,contestações.
Suas pernas firmes,fortes e brancas gritavam para conseguir dar um passo à frente.
Não se sabia o que passava-se ali por dentro,entre suas pernas.Mas,jorrava-se emoções e caprichos que antes ou quem sabe,ainda tivera/tem.
Na sua boca um gosto doce de baunilha na boca,cheiro de mel em seus cabelos,cheiro de incenso no ar.
Tinha vinte e um anos e todo o pesar do mundo em seu ventre.
As cartas vermelhas foram se acumulando em suas gavetas desde sua adolescência e agora,para escondê-las,engolio-as.Deu nisso.O desapego deve ser praticado,tendo em vista esses imprevistos.
Lembro-me de ter visto-a naquele vestido bonito de chita amarelo guardando aquela suposta ultima carta que ela escondeu tão bem debaixo da caixa laranja dos seus sapatos de ballet.
Culpou-se como se fosse uma foragida da lei,uma subversiva - e era,dela mesma- louca,impulsiva e inconstante.
Descobriu-se como alguém especial,viu que aquilo deveria ser algo que só ela possuía.Mas,não sabia como surgiu,pensou que fosse por conta da bebida que tomou ontem.Ou ainda o novo desodorante que ela havia testado,mas,naão.Não havia explicação cabivel.Porra,que merda que aconteceu?
Dandara não tinha ideia do que havia com seu corpo.Os dias passavam,os meses iam e vinham... E seu ventre crescia e crescia mais e mais.Fez dietas,sua barriga crescia.
Dandara lembrou-se que comeu melancia.Mas,disse para si mesma:- Não,nem suponho isso,não sou tão idiota.Não?Vá pro diabo!Não sou.
Na sua inconstância,Dandara saiu de casa,com seu vestido de chita azul , com uma ecoberg cinza e muita vontade de respostas.Despiu-se e jogou-se no mar,sua barriga encolheu,o mar tossiu,o céu escureceu,a porta se abriu ,alguém sorriu e logo coagiu:Menina,Dandara,tu és luz,jóia rara,vem pra cá e deixa de ficar Odara!
Não sabia de onde vinha aquela voz rouca masculina,mas,já havia escutado aquela tal voz.
Gritou: Há alguéeem??
Responderam com eco:Aqui,dentro de ti.
Dandara repreendeu-se com uma tapa em sua própria face e mandou-se calar a boca.Aquela voz insistia.E dizia-lhe:Você me criou.Sou você,seu outro Eu.Dentro de você.E estou para nascer.
Dandara desmaia e é levada pelas ondas do mar,sai de lá com um vestido laranja e a areia da praia estava repleta de cartas nunca enviadas,em cartão vermelho.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Diz!