sexta-feira, 4 de dezembro de 2009


Põe dois copos na mesa de madeira.Vem com uma garrafa de vidro que parece mais um jarro de flores do que uma garrafa,aponta para os copos e coloca um suco muito vermelho e gelado;acerola.Ela ainda não entende por que causa ou consequencia,ou até imaginação colocou dois copos.Sempre gostou de coisas em par.Tênis,gatos,luvas,olhos,filmes,casais,copo e garrafa.Sentou-se com seu vestido roxo de bolinhas brancas e tentou pensar no que escrever para um determinado Artigo que deveria ser entregue naquela próxima manhã.O telefone toca,levanta-se rapidamente e vai até o insistente som de 'cricri'.Antes fosse um animal,mas,era mais um daqueles chatos telefonemas que não são pra ninguém.Por conta disso voltou-se para o grande janelão que deste dava para observar toda a vizinhança.Dali observava-se diversos tipos de gente,Maria Vagabunda à Clarinha, santa como a virgem!Descansa seus olhos mirando ao longe uma grande árvore muito verde com pequenas flores em forma de linhas muito róseas.Respira fundo e tenta sentir mais perto,tenta sentir o seu cheiro,o seu gosto é de infância e amor,isso já ficou-lhe claro.Passou grande parte de sua manhã tentando descobrir o aroma que aquela cor despertava de tão longe,po rmais que não fosse fruta,sua mente teimava em reproduzir aquelas linhas rosas como frutas.Cansou-se de ficar em pé por tanto tempo,voltou para a mesa e tomou o restante do seu suco e percebeu aquele copo alí,tão vazio e ao mesmo tempo tão cheio.

Ahhh...Se houvessem alguem para toma-lo!Pensou alto.
Mas,não havia.Sua vida era do janelão para à mesa,da mesa para a cama,da cama para os papeis,dos papeis para os jornais,dos jornais para...Vidinha ciclica.

Pensou em possibilidades de encontrar pessoas e se distrair um pouco,estava muito cansada de ver as mesmas pessoas,aqueles mesmos pensamentos,preconceitos e vaidades.Não,chega.Aquilo já bastava.

Pegou uma bolsa ecológica com uma árvore estampada na frente com aquelas mesmas linhas róseas que havia naquela que habitava em seus pensamentos e olhos,colocou nesta bolsa as chaves do seu bugre,pegou uma pequena sacola ,pegou alguns remédios,pegou um pequeno depósito de vidro e colocou grão de bico,salada ,arroz e soja.Pegou outro depósito e colocou um sanduiche de queijo,encheu duas garrafas de água cada uma de um litro e colocou mais uma garrafa de 500 ml de suco de acerola,ainda muito gelado.Separou alguns papéis e um gravador pequeno junto com sua caneta predileta,aquela de escrita fina,mas,com uma cor forte,em gel.Pegou cartões de crédito,algum dinheiro guardado e uma mala contendo suas roupas preferidas.
Estava decidida:Iria em busca da sua felicidade.

Desceu na pequena escada e deu um 'olá' aos outros inquilinos,deu alguns afagos aos gatos,como se despedisse deles,mas,não estava,ao menos não queria e pensava ainda em voltar naquele dia.A escada apesar de ser pequena abrigava algumas caqueiras de samambaias,os degraus era de mármore branco ,as paredes amarelas cor de gema.Na sala central havia um enorme espelho que refletia toda a energia daquela gente.Gente brasileira e gente africana.Gente irmã.Gente gentil e amorosa.Mas,aquilo era rotina,não se aguentava mais.

Sorriu enquanto dava cada passo em direção à pequena saída que dava para a garagem.Seus passos eram marcados pela delicadeza e firmeza de seus pés,pequenos e gulosos por mais e mais passos.O balançar de suas pernas acompanhavam o balançar do seu coração,lento,mas,com bastante volúpia.Seu vestido no meio da coxa,mostrando aquela cor ''mel-esbranquiçada",cor brasileira,nordestina,gostosa de se ver.Cabelos soltos,fios mais claros,seus olhos no horizonte.

Pegou a chave do carro e pisou fundo.Nem queria se lembrar do Artigo que teria que produzir,nem se lembrava mais do que deveria falar.Seu pequeno mundinho foi deixado para tras.Foi ao Marco Zero do Recife,não sabia se sentava em Saturno,na Lua ou em qualquer outro canto dali.Resolveu rodor até se sentir tonta o suficiente para cair sentada em algum daqueles.E terminou na Lua.E ficou lá,sentindo a brisa e o balançar dos seus cabelos que acompanhavam freneticamente o ritmo do poluído que ali havia.Mas,não lhe incomodava naquele instante o cheiro,só conseguia imaginar o cheiro que supostamente teria aquelas 'linhas róseas" daquela árvore perto de sua casa.Estava ali para pensar,o sol das 13 horas nem chegava a incomodar,não sentia-se em seu corpo,sentia-se livre.Naquela liberdade gostosa que só o bem-te-vi conhece!Dramaticamente pegou o gravador e começou a falar palavras soltas: Vida.Caos.Obrigações.Água.Mar.Bolívia.Paulo.Integral.Salário.Documentos.Ar puro.Sustentação.Mães.Pais.País.Educação.Penhoramento.Aprimoramento.Ilusão de uam vida perdida entre a razão.Nem sentia mais.Não me lembrava o que era emoção,eis que estou aqui,Na lua ,com um sol de quase sertão,eis que agora sinto,mas,não sei que horas são.Só sei que brilha,pulsa o sangue do meu coração.E eis que um dia isso foi brega,hoje poesia,outrora deveras ser autonomia.Viva o dia em que vi aquelas verdes e róseas na harmonia.Lembrei-me do que eu sempre queria em tempos remotos.
Eu queria..Queria...Queria um par de harmonia.Com cores de folia,que nem a Mangueira,com amor e alegria,com açúcar e com afeto.Descobri que no Recife meu eu é poético!

Desligou.
Suas palavras eram densamente carregadas e cada uma delas praticava o exilio para diversos lugares diferentes.Exitou se poderia usar aquilo para trabalho,mas,aquilo era emoção.Nunca ouviu dizer que trabalho e emoção andavam juntos.Não tinha prazer naquilo que fazia.

Jazia em terreno  Boliviano sua querida Mãe.Precisava sentir algo seu mais próximo,mas,antes ainda pensava em ver aquela bela árvore que dava para  ver do janelão da pensão.Numa atitude sem pensar correu até o carro que havia estacionado no 'Azulzinho' por 5 reais.Correu desesperadamente para o aeroporto,nem sabia pra que iria alí.Mas,coincidentemente achou por perto uma árvore daquelas,verde com rosa.Tirou diversas fotos com o seu celular.Gravou a brisa tocando aquelas folhas junto com o barulho que fazia os aviões.Admirava-os de longe,pensava se poderia viajar naquela hora mesmo.Mas,pensou no seu carro e nos afazeres que tinha ainda por hoje.Foi até o carro e pegou o depósito que continha seu almoço.Enquanto almoçava escutava o que havia gravado até agora,sentia-se bem,mesmo ouvindo antigos problemas que estavam agregados naquelas palavras que juntam resultavam em frase,que para outros poderia não haver sentido,mas,para ela...

Um cara com andar folgado,mas,tímido,com mãos nos bolsos e tristeza no olhar e ao mesmo tempo esperança aproximou-se do carro dela; perguntou-lhe se ela era Júlia Bertouline ,ela assustada disse que era sim.Ele perguntou se poderia sentar-se ali no carro dela para conversar.Ela estranhou,largou seu almoço e resolveu tentar entende ro que estava ali acontecendo e perguntou-lhe finalmente quem ele era. E ele,com um bom sotaque que lhe soava como chuva tão esperada no sertão,sentia-o como se sentisse a brisa que a chuva trazia consigo,as mãos daquele pareciam gotículas de chuva em seus cabelos.Ele dizia-lhe quem era e ela lembrava-se daquele velho amor que havia sentido no colegial por tal rapaz.Mas,antes do romantismo lembrou-se das humilhações e restrições que havia passado,mergulhou em um balde de mágoas e ali ficou sentindo aquele cheiro que logo transformou-se em lama,em bosta,em mangue.Afundou de cabeça em seus pensamentos infantis e chamou-o para ir até a sua casa.No caminho para sua casa,em alta velocidade encontrou uma daquelas belas árvores.Sem dizer nada para aquele rapaz que ficara calado o tempo todo buscando amores apenas em olhares ,Júlia sentou-se perto daquela árvore ,pegou o gravador e gritou:Estou livre!
O cara achava graça de tudo,pobre moço.Pensava que trocaria cartas de amor,beijos e poesias com aquela que outrora ele havia conhecido.Júlia com um ar maligno andou em alta velocidade até a proxima árvore daquela,que dava para ver no seu janelão,Foi de frente,fundo,sem dó nem piedade.Bateu e capotou mais de 5 vezes,cairam no canal.Morreu com seu amor,morreu com sua flor,morreu enfim....Com a sua dor.

2 comentários:

  1. Júlia,Juliana...Posso supor algo?

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  2. Quero voltar a ler poesias suas.
    Tão românticas e misteriosas,anda,escreve aqui.

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Diz!