''Todo el mundo sabe que la Tierra está separada de lo sotros astros por una cantidad variable de años luz.Lo que pocos saben(en realidad,solamente yo) es que Margarita está separada de mí por una cantidad considerable de años caracol''
Ora,ora,essa foi a melhor maneira de se começar o dia. Acompanhado de um chá de Camomila,forte,e bem doce. Torradas salgadas e bons e belos gatos aos seus pés. Duas frases que cabiam em seus olhos e mãos,mas,não cabiam mais na sua emoção. Confundia Margarita por Paixão,Confundia Terra com Ilusão. Mal sabia o que se passava no seu coração. Mas,possuía uma certeza,daquelas bem certamente corretas: Estava apaixonada. (Ou não)
Pensava naquela distância como algo bom,algo que poderia soar como 'impossibilidade','sonho',enfim Ilusão.
No auge dos seus 24 anos,Laura apaixonou-se perdidamente pelas Letras. Lia tudo que via pela frente,inclusive dava significados e sentimentos para palavras soltas ditas por um alguem distante.
Morava na capital pernambucana,mas,ao contrário do que se pensa,ela era branca,com cabelos finos e de uma sensibilidade incrível. Nada de modos rudes,nada de comer palma,ou qualquer alimento de animal do Sertão. Lembro-me de uma vez que ela estava na janela com um vestido de chita amarelo,com flores tão pequenas pretinhas,como seus olhos. Seus cabelos dourados que davam voltas como os seus pensamentos,ora bem enrolados,ora somente girando. Suas mãos delicadas encostadas no 'batente' da janela,sorriam com seus dedos longos e delicados,suas unhas desenhavam quadrados harmoniosos com aquela linda pele bege que faziam-me sussurrar seu nome de noite,tentando inconscientemente tê-la em meus braços para ouvir aquelas palavras que eu não entendia nada,falava em espanhol,portunhol,não sei que diabos ela dizia,mas,mexia bastante comigo. Eu brechava-lhe todos os dias. Queria saber o que comia,como se trocava,o que vestiria para trabalhar,onde iria depois do trabalho e o que escreveria naquele grande caderno com folhas amareladas,não sei se do tempo ou da moda.
Depois que ela tomava o chá matinal com torradas,supostamente tomava café,uma vez que eu sentia o aroma daquele café feito na hora,com amor. Suas palavras chegavam até mim num grito de apelo 'Acorda,vem contar minha estória'.E eu logo obedecia. Abria a janela que dava de frente para o seu quarto,mas,só tive a chance de vê-la do jeito que eu sempre quis uma única vez. Mas,antes,quero dizer como era belo até o seu quarto,a cortina era de Tule branco,com um fino véu verde-água,dava para ver o seu corpo bege espumando alegrias,ou tristezas...Lembro-me que ela cantava suavemente algo que falava sobre Ventana. "Abro la ventana y entra la luz con el viento" essas palavras ficaram fincadas no meu coração,nem sei o que significam,só sei falar do meu sertão,e daquelas magricelas ou muito gordas amigas que tive,e nenhuma com tão espetacular beleza desta. Laura....Laura!
Psiu... Vou até a janela,ver se ela ainda está ali. Ela costuma gravar-se falando e cantando,faz entrevistas consigo mesma,conta como foi seu dia e adoro ouvi-la. Ainda escreverei sobre ela para todo o mundo saber como ela é bela. Lembrei-me dos seus traços...Ai ,Laura. Sua boca rosa,tão carnudinha,que chama-me para beija-la levemente e docilmente,seu nariz pequeno,um tanto negróides,mas,fino e delicado,algo inexplicável;seus olhos de lanterna-negra que iluminam todo e qualquer ambiente. Ela ainda não está no quarto,mas,sinto o seu perfume dentro de minha mente. Deve estar tomando banho,pegando naqueles braços bronzeados pelo sol do meio-dia,descendo e enrolando-se nos seus seios grandes,descendo para sua barriga límpida...Suas pernas fortes e longas. Ô Laura!Ai Laurinha!Se eu ti visse como naquele dia...Nuinha,nuinha...Gravando algo que no fim dizias:'Lo que me gusta de tu lengua es la palabra.E saía de mim um :'Sim,sim,eu também',sem nem saber o que falavas...Será que ainda se casas?Tão miudinha,tão perfeitinha,seu cheiro incensava minhas tardes,hoje incensa todo meu dia,cada dia mais entrego-me aos teus passos,aos teus olhos que nem conseguem me ver,as tuas lindas pernas,aos teus seios que palpitam amor à outros sortudos,que não eu.
Trocou de roupa,um vestido verde,encheu seus cabelos de flores,mas,não as vejo,só sinto seu cheiro. Vagarosamente tentarei simular um encontro casual com ela. Nem me olha,sai com uma bolsa de palha na mão,não sei no que ela trabalha,mas,sempre sai e volta nas mesmas horas. Um dia ainda tomo coragem e sigo-a .Não consigo imagina-la com algum homem,nem em meus sonhos tenho-a,nem em beijos ,nem em palavras,em nada,só vejo-a distante,aquela boca dourada,com a pele rosa e os cabelos lanterna negra,e os olhos bege!Quanta confusão,foram os seus cachos que passaram por aqui,não em vão.
Agora,infelizmente tenho que trabalhar. Sou um imbecil funcionário público,mas,sempre tenho tempo para prosear com os animais que crio,tenho muitos cachorros,respiro-os,antes mais,só que agora minha prioridade é a Laura. Formosa Laura. Pupila Laura!Trocarei de roupa,pego logo mais,são 10 horas da manhã. Tentarei tomar coragem e amanhã seguir essa bonita garota. Sim,Garota,tenho 36 anos. Mas,juro que não pareço ter tal idade. Sempre trabalhei ,mesmo sendo de família rica. Sou Souto Maior,cresci e mas não me criei na Rua da Aurora,antes não tão violenta,mas,sempre linda e clara. Fui para o Sertão,meu pai queria ser prefeito de alguma cidade,para roubar,de fato. Só sei Francês,tenho que aprender espanhol rapidamente,preciso falar com aquela senhorita misteriosa,chama-la de querida e tentar jantar com ela. Quem sabe me casar,tendo em vista que nunca me casei,nem sei o que são filhos,mães,só sei o que é sofrimento,de ver meus dias aqui passando roendo-me de vontade de ter Laura. Visto-me agora,todo de linho,o trabalho exige.Escrivão.Conto as histórias de outrem,mas,quase nunca as minhas,mas,eu bem digo aos meus cachorros que um dia escreverei minha vida,eis que aqui faço-a. É meu dever,de virgem apaixonado. Magreza e inteligencia sempre me atrapalharam com as mulheres,isso é fato,mas,lembro-me de Joana,uma putinha da época,queria-me de qualquer jeito,mas,era tão tímido e idiota que não a quis. Ainda bem que não quis,imagina só..Algo(ela) me impediria de ver tão formosura que vejo hoje,com certeza ela não gostaria de morar na cidade na Rua da Aurora,havia de querer um palácio como o que eu morava em Serra Talhada. Maldita Terra de olhos azuis e verdes. Levei comigo tantos olhos verdes,mas,não os possuo. Olhos azuis como o que dizem ser o céu,mal tenho boca e olhos,de tão pequenos. Queria ter aqueles traços negróides,aquele balanço que só ela tem...Laura!
Laura deveria se chamar Ângela,mas,não chama-se assim porque seu corpo é chama. Hoje ficarei na frente de casa,quero falar com ela. Tenho que ter coragem!
Não agüento mais,faltam duas horas para ir para casa,pedirei para ir mais cedo,invento que estou doente,que não me sinto bem...Quero me preparar para vê-la,chama-la para tomar um café,pedir aquele cheiroso café para ela,preciso dela!
Não..Mas..Antes disso,me matricularei em um curso de espanhol. Um intensivo,não sei. Pago quanto for.
Passei em casa,busquei meu talão de cheques,coloquei comida para os cachorros, dei ordens à Maria,uma negra amiga da família,na verdade bisneta da nossa ex-escrava. Mandei separar uma roupa que ela achasse-me bonito nesta,pedi para preparar um banho e fazer um jantar muito especial,aquele jantar que a sua mãe fazia,quando empregada em Serra Talhada na casa de meus pais.Fui ao centro da cidade em uma escola de idiomas,me matriculei. Quinhentos e oitenta e quatro reais sem material incluso. Tudo Por Laura. Antes de voltar para casa fui para o posto de gasolina,encher finalmente o tanque e lá mesmo comprei um ramalhete de flores do campo,seria melhor do que dar rosas vermelhas,não tinha tanta confiança e cara de pau assim.
Fui para casa,deite-me na banheira,pétalas de flores,sachês,incensos. Maria sabia bem como me agradar,pensei até em aumentar seu salário. Passei um tempo pensando em como iria falar com aquela formosa. Mas,embriaguei-me no vinho branco que estava acá. Maria com seus 28 anos,veio trazer-me a toalha,aquela negra pegou-me em maior intimidade comigo mesmo,estava alucinado sonhando acordado com Laura,meu rosto notavelmente estava em transe. Maria,aquela mulata em que nunca reparei mesmo estando comigo sempre e desde que me entendo por gente,estava ali,observando-me,falou baixinho meu nome:Seu Gustavo,o jantar está pronto. Abri os olhos,mas,vi Laura. O êxtase me levou a dizer: Lo que me gusta de tu lengua es la palabra.Maria riu-se de mim,virou as costas,com aquele lindo e nunca dantes visto rabo!Que negra,que mulata!Corri em direção ao corredor dos quartos,de toalha,chamei-a. Ela veio com um gingado nunca dantes percebido,apertei-lhe os seios contra os meios,levei-a até a banheira,fiz-me enfim homem. Que negra maldita!Eu guardei-me para o amor,não para os prazeres malignos negróides!
Pedi para que me deixasse sozinho,a negra pulava de alegria,maldita. Não sentia nada com ela,só via Laura. Ô Laura,que farei agora com as flores que comprei para ti?Já estais dentro de casa,já passou da hora de ver-te. Oito horas da noite.
Chamar-te-ei mesmo assim. Vesti aquela roupa separada pela Maria,Maldita nordestina-africana,e fui bater palmas na porta de Laura. Ela abriu surpresa,e demorou para abrir a porta,pensei em sumir dali,mas,continuei.
-Bonjour,Madame....
-Hola...pero..puede hablar en español,sí?
-Não entendo,posso falar em português?
-Ah,pensei que não soubesse falar em português. Nesse lugar parece que todos os de olhos azuis falam francês!E português parece que só quem fala são os Luso daqui.
-Não bela senhora,nasci aqui,nesse belo lugar,sou filho de português com uma Holandesa. E você,que linhagens?
-Não tenho linhagens tão puras quanto a tua,mas,antes,te digo que sempre tive vontade de falar contigo,sempre que ia na janela estavas lá. Entra para tomar um café.
Nem precisou eu dizer mais nada,que Laurinha mais simpática. Que bonita minha Laura!Aquele vestido rosa,com um decote maravilhoso,aqueles cachos brilhantes e seus dentes tão pálidos!
Entrei e perguntei-lhe na cozinha quais então suas linhagens.
- Sou filha de pernambucanos,nasci aqui aqui mesmo.Minha mãe tem descendentes de Serra Talhada,talvez portugueses,e meu pai é um filho de negro com uma índia.
-Por isso então tens uma cor tão linda e brasileira!
Não pude evitar de dizer-lhe.
Ela riu com uma formosura melhor do que já vi antes.E deu-me o café.
Depois de horas falando bobagens,contando minhas paixões por caẽs,que era escrivão,que nunca me casei e tantas outras coisas ,chamei-a até minha casa,para jantarmos. Maria nos serviu pessimamente,negra burróide,só serviu até o dia que era um ser assexuado para mim e para ela.Não esquentou a comida,fiquei até com um pouco de vergonha,mas,Laura disse-me que já havia jantando e só veio por educação e para continuarmos nossa conversa,segundo ela 'emocionante'.Depois de mais conversas,agora sobre a sua vida,descobri que ela era Radialista e por isso que gravava-se tanto falando,era para aperfeiçoar sua voz e tentar de certa maneira quebrar um pouco o seu forte sotaque boliviano. Contou-me que passou 5 anos morando lá. Nunca casou-se,nem tem filhos,seus pais são separados,sua mãe trabalha no interior como...
- Calma,ela é secretária de do Prefeito de Serra talhada?
-Sim,trabalha faz tempo com ele.
-É o meu conhecido.
Rimos juntos,nunca pensei que fossemos tão próximos assim. E nem sabia o que vinha pela frente. Perguntei-lhe seu sobrenome.
Disse-me: Meu nome é Laura Lima.
- O nome completo?
-Sim,não tenho pai no papel.
-Sua mãe não contou-te nada?
-Bom,sou filha de um parente desse prefeito,mas,não me lembro bem quem é. Mas,lembro-me o nome:Caetano Cavalcanti.
Martelou-se na minha cabeça o nome daquele mal-feitor,meu 'querido' tio. Maldição,ela era prima,embora de segundo grau,prima.
-Que houve?Silencio total!Vai me dizer que é seu pai?
-Não,não...Mas,creio já ter ouvido o nome desse sujeito.
Ela olhou a hora e pediu-me licença,pois teria que trabalhar mais cedo naquele outro dia.
Me decepcionei,que dia!
Encontrei-a diversas vezes,ficamos amigos.
Dançamos várias vezes juntos ,fomos ao teatro,cinema,apresentações ao ar livre.Bastante íntimos.
Aprendi espanhol em 6 meses,mas,obvio,só sabia o básico.
Cheguei para Laura um dia e disse-lhe:- Lo que me gusta de tu cuerpo es la boca...Lo que me gusta de tu boca es la lengua...Lo que me gusta de tu lengua es la palabra,hermosa....
-Alfredo!Que felicidade ouvir-te dizer isso!
Meu coração não controlou-se,beijei-a ardentemente.
-Não!Não!
-Não?
-Não,Alfredo,falava da poesia em si. Mas,já que me beijas tão apaixonadamente...
Continuamos.
Namoramos por anos e anos,casamos.
Um dia ,com peso na consciência de ter duas esposas(Maria e Ela) deixei-lhe um bilhete com um 'tom' de culpa-la sobre tudo que houve entre nós escrevi:
Fui una letra de tango para tu indiferente melodía palabras de Júlio Cortazar,PRIMA!
Sempre indiferente,depois que nos casamos e não conseguíamos ter filhos,cansei de viver de ilusões de tê-la grávida. Enfim,casei-me com outra negra,tive um filho,negro. Matei-me quando este nasceu.
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